Ipupiara e Ibipetum: história de lutas na chapada diamantina

 



Por ocasião dos preparativos para a criação do município de Ipupiara, Artur Ribeiro foi ao governador Juraci Magalhães, seu amigo pessoal, preocupado com o “pequeno território” que estava sendo destinado para criá-lo. O cacique udenista então o aconselhou a aceitar assim mesmo, para não perder a oportunidade. De fato, a Lei 1.015, de 9/8/1958, criou o município constituído dos distritos de Ipupiara e Ibipetum.                  

 O distrito de Ibipetum tornou-se conhecido como a “Terra do Fumo”, graças à intensa produção do fumo de corda, com destaque para a safra dos anos 1960, quando havia quarenta depósitos de tratamento e embalagem de fumo para ser exportado para cidades da Bahia e de outros estados: Minas Gerais, São Paulo, Maranhão e Piauí. Na década de 1970, havia duas indústrias: a Capelão e a Guarani, especializadas em torrar, desfiar e empacotar para ser comercializado sob a forma de fumo desfiado.

A história política do município de Ipupiara é marcada por uma forte rivalidade entre os políticos do distrito de Ibipetum e os da sede. Desde a primeira eleição (1958) até os anos de 1980, emulados por tensas campanhas eleitorais, os dois grupos travaram acirradas disputas visando conquistar o mandato de prefeito municipal. 

A primeira eleição (1958) foi disputada por José Antônio dos Santos (Dedé), apoiado pelos líderes de Ibipetum, e Getúlio Ribeiro Barreto, apoiado pelos líderes da sede. O resultado foi definido pelo critério de desempate, porque os escrutinadores anotaram 605 votos para o primeiro e o mesmo tanto para o segundo. O juiz de direito Ismael Arcanjo Ribeiro proclamou eleito a Dedé, por ser o candidato mais velho.

 A segunda eleição (1962) foi disputada entre os candidatos Arlindo Alves de Almeida (Sinhozão), pelo distrito-sede, e Aristides Francisco da Silva, apoiado pelos políticos de Ibipetum, notadamente pelo então prefeito José Antônio dos Santos e pelo carismático líder ipupiarense Artur Ribeiro dos Santos. O primeiro obteve 776 votos e o segundo 740, portanto, Arlindo Almeida venceu com 36 votos de frente.

 A partir da eleição de 1992, percebe-se claramente o ocaso da rivalidade histórica entre Ipupiara e Ibipetum. Primeiro que os dois candidatos (Osvaldo e Getúlio) são genuínos de Ipupiara; nenhum é ligado a Ibipetum. Mas a principal razão desse ocaso é que “a terra do fumo” entrou em decadência, a partir dos anos 1980, de modo que o padrão de vida de sua população sofreu uma drástica deterioração, o que reduziu significativamente a sua importância político-eleitoral. A fase áurea dos caminhões carregados de fumo para exportação e do seu benéfico efeito multiplicador no comércio local havia chegado ao fim. Foi-se o tempo dos depósitos repletos de trabalhadores empregados nos serviços de beneficiamento do produto, das fábricas produzindo o fumo desfiado e empacotado para entrega sob encomenda nas grandes cidades da Bahia e de outros estados. O comércio de um modo geral definhou. Neste cenário, os jovens ávidos por trabalhar partiram para outros mundos: São Paulo, Salvador, Itabuna, Jequié, etc.

Até o início dos anos de 1970, o município de Ipupiara sofria com falta de professores para ensinar ao crescente número de crianças e adolescentes em idade escolar. A diocese de Barra, por iniciativa do padre Rogério Ataíde, viabilizou a transferência das professoras de Barra Elza, Beatriz e Jesuína. Elas ensinaram de 1967 a 1970, época em que os ipupiarenses sonhavam com um “Ginásio” para seus filhos estudarem.

Sob a gestão do prefeito Osvaldo Leite, em 1970 foi criado o Grupo Escolar Castro Alves, com ensino até a 8ª série, cuja diretora foi a professora Natalice Saldanha.

Em 1971, Moisés Arcanjo Filho contratou em Barra a professora Joselita Gonçalves Lopes e a hospedou em sua casa. Ela deu aulas na Escola de São Vicente de Paula e depois em outra escola do município. Naquele mesmo ano, o prefeito Osvaldo Leite contratou em Barra a professora Maria de Lurdes.

 Em março de 1972, o “Ginásio São João Batista” foi inaugurado com ensino de 1ª à 4ª séries, do qual a professora Débora Teixeira Pinto foi diretora interina. Em abril, o professor Nenildo Andrade Leite assumiu sua direção, agora mantido pela Campanha Nacional de Escolas da Comunidade, sendo vice-diretora a professora Ivete Carvalho. Eles foram transferidos pelo governador Antonio Carlos Magalhães junto com outros seis, inclusive a professora Edite Santos Leite.

A autorização da Secretaria de Educação do Estado da Bahia para a oferta do ensino de 2º grau em Ipupiara foi publicada no diário oficial do estado em 20/10/1977. Não obstante, a primeira turma de alunos desse nível teve início no ano letivo de 1975 e a conclusão em dezembro de 1977. 

Até a década de 1970, inúmeras pessoas passavam fome no município de Ipupiara. A missionária batista Amália Ferreira Mota disse ter visto famílias passando fome em Ibipetum. Coube a ela apregoar a boa nova de salvação para além da sepultura prometida por Jesus Cristo ... e chorar... Chorar o choro do EU que se assusta ao ver o outro dominado pela miséria, desprovido do essencial para viver, sem ter para onde ir e sem esperança de encontrar a quem recorrer.

 Hoje em dia, segunda década do século XXI, os sinais de riqueza estão à mostra em Ipupiara e Ibipetum. São dezenas de caminhonetes novas e seminovas, nacionais e importadas, propriedade de comerciantes locais, a cruzar as velhas ruas da cidade, as vilas e povoados. Homens e mulheres usam roupas, calçados e joias de marcas famosas. Tratam o cabelo e cuidam do corpo como manda a última moda. De maneira geral, ipupiarenses e ibipetumenses alcançaram um nível de poder aquisitivo invejável. O fato de o comércio local ter saído de um patamar de 4 reais per capta injetado pela prefeitura, em 1962, para 2.000 reais, em 2014, sem dúvida constitui uma boa explicação para a “prosperidade” alcançada pelas famílias nas últimas quatro décadas.

 ipupiarenses podemos aprender com os erros e acertos dos cidadãos patrícios que nos precederam, homens de negócio e políticos experimentados, de caráter forjado no fogo de batalhas travadas no enfrentamento da realidade e nas circunstâncias próprias de cada um.


(Texto adaptado do livro ainda (ou já) no prelo: Ipupiara e Ibipetum – História de lutas na chapada diamantina. SANTOS, Arides Leite).



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