MORTE DE CARLOS LAMARCA COMPLETA 52 ANOS NESTE DOMINGO

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Monumento em homenagem a Carlos Lamarca e Zequinha Barreto em Pintada/ Ipupiara (BA) – Jonathan Martins/Divulgação |
Mas quem foi Carlos Lamarca e por que ele se rebelou contra
o regime que ele mesmo serviu? Neste post, vamos contar um pouco da trajetória
desse homem que deixou sua marca na história do Brasil como um dos mais
combativos e corajosos guerrilheiros da esquerda revolucionária.
Lamarca nasceu no Morro de São Carlos, no Estácio, no Rio de
Janeiro, em 27 de outubro de 1937. Filho de um operário e uma dona de casa,
teve uma infância pobre e difícil. Aos 17 anos, decidiu seguir a carreira
militar e ingressou na Escola Preparatória de Cadetes, em Porto Alegre. Em
1957, já cursava a Academia Militar de Agulhas Negras, em Resende, no Rio de
Janeiro, onde se destacou como um dos melhores alunos da sua turma.
Foi na academia que Lamarca teve seus primeiros contatos com
as ideias comunistas, através da leitura de obras como O Capital, de Karl Marx,
e A Revolução dos Bichos, de George Orwell. Influenciado pelo clima político e
social da época, que vivia o auge do nacionalismo e do desenvolvimentismo do
governo de Juscelino Kubitschek, Lamarca se identificou com os ideais de
justiça social e soberania nacional defendidos pelo Partido Comunista
Brasileiro (PCB).
Em 1961, já como tenente, Lamarca foi transferido para São
Paulo, onde passou a integrar o Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR),
uma organização clandestina ligada ao PCB que tinha como objetivo preparar os
militares para uma futura revolução socialista no Brasil. Nesse período,
Lamarca se casou com Marina Célia Daltro, com quem teve dois filhos: Clara e
César.
Em 1964, após o golpe militar que depôs o presidente João
Goulart e instaurou uma ditadura no país, Lamarca se opôs ao regime e passou a
atuar na resistência democrática. Em 1968, após o endurecimento do regime com a
edição do Ato Institucional nº 5 (AI-5), que suspendeu as garantias
constitucionais e ampliou os poderes dos militares, Lamarca tomou uma decisão
radical: desertar do Exército e ingressar na luta armada.
No dia 24 de janeiro de 1969, Lamarca roubou 63 fuzis FAL,
algumas metralhadoras, uma pistola 45 e farta munição do quartel onde
trabalhava em Osasco e entregou as armas para a Vanguarda Popular
Revolucionária (VPR), uma organização guerrilheira de orientação
marxista-leninista que tinha como objetivo derrubar a ditadura pela via
insurrecional.
A partir daí, Lamarca passou a viver na clandestinidade e a
participar de diversas ações armadas contra o regime, como assaltos a bancos,
sequestros de diplomatas estrangeiros e ataques a quartéis. Em 1970, assumiu a
direção nacional da VPR e passou a ser considerado um dos inimigos número um da
ditadura, tendo sua cabeça colocada a prêmio por um milhão de cruzeiros.
Com o cerco contra os revolucionários se fechando cada vez
mais, Lamarca decidiu partir para o interior do país, onde esperava organizar
focos de guerrilha rural inspirados na experiência cubana. Em junho de 1971,
chegou à Bahia, onde se instalou na comunidade de Pintada, junto com seu
companheiro José Campos Barreto, o Zequinha.
Menos de três meses depois, no dia 17 de setembro, Lamarca e
Zequinha foram localizados e cercados por uma tropa do Exército comandada pelo
major Nilton Cerqueira e pelo cabo Dalmar Caribé. Sem chance de defesa, os dois
guerrilheiros foram alvejados e mortos a sangue frio. Seus corpos foram levados
para Salvador, onde foram submetidos a uma autópsia fraudulenta que tentou
ocultar as marcas da execução.
Lamarca foi enterrado como indigente no cemitério de Quinta
dos Lázaros, sem a presença de familiares ou amigos. Somente em 1980, após uma
longa batalha judicial, seus restos mortais foram exumados e trasladados para o
Rio de Janeiro, onde receberam uma homenagem pública de milhares de pessoas que
reconheciam sua luta pela liberdade e pela democracia.
Hoje, 51 anos após sua morte, Carlos Lamarca continua sendo
um símbolo da resistência à ditadura e um exemplo de coragem e coerência para
as novas gerações. Sua história é parte da memória coletiva do povo brasileiro,
que não pode esquecer nem perdoar os crimes cometidos pelo regime militar.