IBIPETUM: ORIGEM E EVOLUÇÃO DA TERRA DO FUMO

As comunidades
de Ipupiara e Ibipetum foram formadas e se desenvolveram ao longo de gerações
com gente carregada de sentimentos, sim, gente que sente o pulsar da vida, que
dá valor aos frutos da natureza, aos bens da cultura, ao gozo do lazer.
Durante décadas
Ipupiara e Ibipetum pertenceram ao município de Brotas.
Pela divisão administrativa do Brasil realizada
em 1933, a composição do “município de Brotas” era formada por quatro
distritos: Sede, Chapada Velha, Jordão e Barra do Mendes. Cinco anos depois, pelo
Decreto-lei estadual nº 10.724/1938, “a vila de Brotas” recebeu foro de
município, formado por Brotas, Barra do Mendes, Jordão, Morpará e São Francisco
(Saudável).
Novamente, cinco
anos depois, pelo Decreto-lei estadual nº 141/1943, o topônimo volta a
denominar-se Brotas de Macaúbas, e o município passou a ser composto, de acordo
com o Decreto estadual nº 12.978/1944, dos distritos de Brotas de Macaúbas
(ex-Brotas), Barra do Mendes, Ipupiara (ex-Jordão), Morpará e Saudável.
Nove anos
depois, pela Lei estadual nº 628/1953, o município passou a ser composto por
oito distritos: Brotas de Macaúbas (sede), Barra do Mendes, Ibipetum, Ipupiara,
Morpará, Minas do Espírito Santo, Ouricuri do Ouro e Saudável (FERREIRA, 1958).
Com o passar dos
anos, o imenso território de Brotas de Macaúbas sofreu vários desmembramentos
para formar outros municípios: Monte Alto (1917), Oliveira dos Brejinhos
(1933), Barra do Mendes (1958), Ipupiara (1958), e Morpará (1962).
As disputas de
poder entre os caudilhos Horácio de Matos e Militão Rodrigues Coelho marcaram a
história de Brotas de Macaúbas na primeira metade do Século XX.
Horácio de Matos
nasceu em 18 de março de 1881 na Chapada Velha, lugarejo que ganhou projeção em
virtude da extração mineral, haurindo relações econômicas e sociais com outras
povoações do Estado que, igualmente, se desenvolviam por causa da extração de diamantes,
com destaque para Mucugê e Lençóis. Do comércio às ingerências da política foi
um pulo. Eram os primeiros anos da República.
Segundo Edízio Mendonça (2006), Militão Coelho
se tornou o chefe político mais poderoso do sertão, com o apoio do chefe de
polícia José Álvaro Cova, que ocupou a Secretaria de Segurança Pública nos
governos de José Joaquim Seabra (1912-1916) e de Antônio Muniz (1916-1920).
Militão Coelho foi presidente do Diretório Municipal do Partido Republicano
Federal (PRF) e, depois, presidente do Diretório Municipal do Partido
Republicano Democrático (PRD), de 1914 a 1919. O político barramendense foi
nomeado intendente de Brotas de Macaúbas em 3/1/1915, governando até 22/2/1916.
Voltou em 14 de março e ficou até 18 de agosto.
Em outubro de
1914, o delegado regional Otaviano Saback, agindo por delegação do Governador
Antonio Muniz Ferrão de Aragão, nomeou o coronel Militão Coelho para o cargo de
intendente, a contragosto dos brotenses da sede, que desejavam ver nomeado o
Sr. Joviniano dos Santos Rosa (major Vena) ou o Sr. João Arcanjo Ribeiro. Já em
1916, enquanto Militão se encontrava em Salvador, o coronel Domingos Pereira,
substituto dele, mandou prender o major Vena, fato que deu início a uma
sangrenta contenda entre seguidores do coronel barramendense e partidários do
coronel Horácio de Matos (MARTINS, 2011).
Nestor Coelho, o
filho de Militão, também se tornaria líder político no Município de Brotas de
Macaúbas. A partir de 1938, conseguiu se eleger para vereador e prefeito e, em
1946, elegeu-se para deputado estadual (MARTINS, 2011).
Dois
ipupiarenses chegaram a ser prefeito do imenso Município de Brotas de Macaúbas,
com seus 7000 km. É certo que o foram, não por meio de eleição, mas de
nomeação, durante a ditadura de Getúlio Vargas, quando o Estado da Bahia andou
sob intervenção federal.
Artur Ribeiro
dos Santos foi nomeado prefeito de Brotas de Macaúbas em 1945. Foi eleito
vereador pela União Democrática Nacional – UDN em 1946, 1951, 1955 e 1959
(MARTINS, 2011).
Adão Francisco
Martins, por sua vez, foi nomeado em 1946, pelo interventor federal na Bahia, o
general Cândido Caldas; seu mandato foi de 1946 até abril de 1947, quando
cessou a intervenção na Bahia. Finda a intervenção, Otávio Mangabeira elegeu-se
governador, então foram restabelecidas as eleições municipais (MARTINS, 2004).
GAMELEIRA → IBIPETUM
O povoado de
Gameleira formou-se com o ajuntamento de garimpeiros que rumaram para aquelas
terras em busca da extração de cristais e de pedras preciosas. Então se
estabeleceram em diminutas propriedades, cultivando a terra e explorando
garimpos, próximo a uma nascente d’água que desaguava numa lagoa. O nome advém
da grande floresta de gameleiras que lá e então existia.
As frondosas
gameleiras produziam um mundo de sombras aconchegantes, onde tropeiros
viajantes, partindo de terras distantes com burros carregados de artigos de
comércio: rapadura, couro de boi, bruacas, cangalhas, ferragens etc., faziam
parada, amarravam os animais, descansavam, pernoitavam, vendiam e trocavam o
que tinham por produtos da terra, tais como feijão de corda, farinha de
mandioca, fumo de rolo, ouro, etc., e então seguiam viagem pelo sertão adentro.
Joaquim
Francisco da Silva, “Quinca Rico”, um dos fundadores do Arraial da Gameleira,
nasceu em 1858, muito pobre, mas trabalhou duro, fez fortuna, adquiriu
propriedades, construiu uma casa de altíssimo valor: um conto de réis. Aliás,
merece registrar que esta casa
foi a residência da última escrava sobrevivente
da gameleira que se tem notícia. Esse “investimento” realizado por “Quinca
Rico” causou admiração a muita gente da redondeza, a exemplo do Coronel João
Arcanjo Ribeiro, que viajou de Brotas para ver com os próprios olhos a famosa
obra da qual tanto lhe falavam: a residência do amigo que diziam ter até uma
Capela construída ao lado dela.
igreja menino Deus
“Quinca Rico”
havia comprado uma escrava de nome Maria. Os moradores mais idosos de Ibipetum
gostavam de contar um fato curioso que se passou entre o velho rico e a pobre
escrava. Dizem que ele pegou uma nota “capa de cangalha”, cobiçadíssima na
época, pois era de elevadíssimo valor, e mostrando a nota à escrava Maria, “Quinca
Rico” fez-lhe o seguinte desafio: - Se você acertar o valor desta nota eu lhe
dou a minha roça de maniçoba. Pois não é que a dita cuja acertou! E para
felicidade lá dela o amo honrou o compromisso de aposta: imitiu-a na posse da
roça de maniçoba. Dizem que João Arcanjo Ribeiro pediu conselho a “Quinca
Rico”, ali por volta de 1888, sobre a conveniência de comprar escravo. O velho
aconselhou não comprar, porque “a alforria estava perto de chegar” (notícias
sobre abolição da escravatura já ecoavam também naqueles arraiais). Assim,
convencido pelo amigo gameleirense, o líder brotense desistiu de fazer tal
negócio.
João Arcanjo Ribeiro
“Quinca Rico” e
João Arcanjo Ribeiro construíram amizade sólida; a estima recíproca
transmitira-se aos descendentes. Filho do líder brotense, Ismael Arcanjo
Ribeiro fez as vezes de dentista no Arraial de Gameleira, atual Ibipetum. Sim,
senhor! Desanimado, porém, com a dita profissão, o fidalgo voltou a estudar, partiu
para a grande metrópole São Paulo, formou-se em Direito, e mudou de vida: galgou
o cargo de Juiz de Direito, retornou à Terra natal, e eis que se tornou o homem
da lei em Brotas de Macaúbas. Nessa escalada, enveredou pelos meandros da
política, intentou ser deputado estadual pelo PSD, no pleito de 1954, porém,
seu projeto malogrou.
“Quinca Rico”
tinha patente de capitão, integrava família grande, formada de muitos irmãos.
José Francisco da Silva (Zeca) seu irmão viajou da Gameleira até Salvador
montado no lombo de um cavalo; foi o primeiro a conseguir tamanha façanha.
Outro irmão seu afamado foi Albuíno Francisco da Silva, “Major Buíno”. O homem
rico da Gameleira faleceu em 1940; jaz no cemiteriozinho lá existente rodeado
de jurema preta.
Na antiga Gameleira, atual Ibipetum, ruas iam se
formando, o Povoado crescia. Um barracão de madeira erigiu-se na Rua Grande,
onde funcionava a feira livre. Grandes casarões de estilo colonial e barroco,
com suas portas e janelas altas, fachadas trabalhadas, amplas salas e varandas,
eis que são edificados e se tornam residências de Antônio Francisco, Aristides
Pereira de Novais, Aristides Silva, André Andrade, Francisco Silva, Miguel
Martins dos Santos, Luciano Pereira de Novais, Manuel Novais, Honorato Silva,
Noel Ribeiro.
A Rua do Alto
(Rua de Cima) forma-se com a construção de várias casas: a de Memézio, em 1888,
a Capela do Menino Deus, e as residências de outros moradores. A Rua Treze de
Maio, onde existia uma Delegacia de Polícia. Nesta os presos ficavam amarrados
com bolas de ferro nas pernas, o espírito do tempo ainda era marcado pelo regime
da escravidão. Esse nome Treze de Maio é uma referência à “Lei Áurea”, que foi
assinada em 13 de maio de 1888, abolindo a escravatura. A Rua do Bate-Bico (Rua
da Manguba), atual Avenida 7 de Setembro. A Rua do Limão, atual Rua Dr. Manoel
Novais. A Rua Nova, atual Rua José Oliveira. A Rua do Carro Velho. A Travessa
da Fábrica, atual Rua Nunes Capelão. A Travessa do Mercado, atual Rua Treze de Junho.
A Rua Caminho do Cruzeiro, atual Avenida Cruzeiro do Sul, entre outras. A
Igreja Matriz de Santo Antônio, padroeiro local, foi construída na área central
da Avenida Santo Antônio, em 1930. A Igreja do Menino Deus, por sua vez, foi
construída depois, na Rua do Alto (Rua de Cima), e reformada em 2003, quando a
prefeitura construiu a Praça da Paz no seu entorno e erigiu uma réplica do
Cristo Redentor.
A Gameleira
ganhou status de distrito com o nome de Ibipetum pela Lei estadual 628, de
1953. Em 1959 teve início o serviço postal: Agência de Correios e Telégrafos, a
cargo da funcionária Onília Pereira Silva, operando em linha telegráfica com
Barra do Rio Grande, Morpará, Brotas de Macaúbas, Ipupiara e Barra do Mendes.
O comércio desenvolveu-se
sob o Mercado Municipal, construído em 1952, na junção das ruas Treze de Junho,
Rua do Comércio, Largo do Mercado e Treze de Maio. Obra do prefeito Gaudêncio
Oliveira, de Brotas de Macaúbas. No mercado realizava-se feira livre aos
domingos, como até hoje acontece.
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